2012-06-17

O enterro dos provincianos

Todo expatriado leva consigo, de alguma forma, a sua cultura natal.  Muitos de nós tentavam trazer à tona esta brasilidade na forma da musica, da dança, da expressão.

Sim, foi no exterior que conheci o Brasil. Longe, a 11 mil milhas de distância, dava mais valor aquilo que não podia ter. A começar pela musica, troquei o bate-estaca anglofonico das discotecas e parti direto para aquilo que a mídia elitista de minha adolescência banalizava: o samba. Foi no meio de pandeiro, batuque e cavaquinho que conheci a malandragem do carioca, o diz-que-não-diz, a camaradagem entre os amigos, a cultura da mulher bonita. Até mesmo aprendi a sambar. Tudo isso sem frou-frou, glamour ou requinte. No samba éramos todos simples, iguais, e cheios de emoção. O elitismo da musica havia morrido.
A geografia dos expatriados brasileiros também reduziu distâncias e matou preconceitos.  Antes somente presentes em figuras folclóricas como os porteiros de Copacabana ou os taxistas alegóricos, o povo do nordeste do Brasil se fazia presente e trazia consigo sua cultura regional.  Na convivência percebi a riqueza cultural desse povo que age naturalmente, de poucas palavras e fortes emoções.  De Pernambuco vinha uma riqueza de cores, da culinária, com traços de requinte reminiscente da colonização francesa.  Na Bahia encontrei valores humanos, da inclusão, da democracia, unidos à uma alegria constante de viver. Ja o Maranhão veio pelo reggae, com qualidade e talento para deixar a Jamaica com inveja.  As atitudes provincianas haviam ficado no Brasil. Ali, nós apreciavamos as qualidades uns dos outros.

Infelizmente, nossos ex-companheiros de província ficaram no Brasil. Com alguns deles, o provincianismo ainda vive. Como poderia tal atitude ainda prevalecer em tempos de YouTube, Facebook, e MSN? Apesar da globalização e do encurtamento das distâncias, nossa cultura ainda desdenha quando tem e aprecia quando não possui, nos mantendo infelizes desta forma.  Porque não, elogiar o que temos e aceitar o que nos falta como natural?  Não seríamos mais felizes?

Para enterrarmos o provincianismo, não adianta passar a Lei do Pense-Positivo ou a Lei do Elogio.  Precisamos de uma mudança de atitude, um processo de reeducação, coisas aquém da responsabilidade do MEC. A mudança de paradigma começa conosco: aprecie algo novo, elogie diferentes posições, aceite os defeitos com parte das qualidades. Somente assim, conhecendo o próximo com respeito, compartilharemos o mundo, felizes.

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