2012-06-10

A democracia do Rio

Eu sempre soube que havia algo diferente na alma dos cariocas, embora talvez não soubesse descrever o quê.

Faça dia ou faça sol, o carioca é um povo que se relaciona.  É o bom-dia pro porteiro, aquele alô pra caixa da padaria, o "valeu mermão" para o jornaleiro além do "e aí beleza?" direcionado ao atendente do quiosque da praia.  Gilberto Gil, nosso embaixador cultural para o mundo, imortalizou esta atitude em Aquele Abraço.  A verdade é que o carioca sempre teve o prazer em agradar, e ele é um povo que se mistura.

Este mesmo prazer de se relacionar pode ter consequências negativas no ambiente de trabalho e na produtividade.  Algumas funções requerem atenção exclusiva e não dependem de habilidades de cunho pessoal.  A cultura do carioca não se compatibiliza com estas atividades.  Talvez por isso os cariocas sejam bem sucedidos nas artes cênicas, no turismo, na propaganda, no marketing e, enfim, em funções onde o relacionamento interpessoal é a chave para o sucesso.  E o sucesso atrai novos talentos, alimentando um ciclo.

Podemos fazer vários paralelos internacionais que conectam as características culturais às principais atividades econômicas.  Rio e São Paulo, Montreal e Toronto, Los Angeles e Nova Iorque, Paris e Londres.  Duetos de centros de arte e cultura versus centros financeiros de urbanismo aparente.

Nossa qualidade de vida depende de nossa eficiência em produzir.  Como então fazer o casamento desta democracia carioca com a eficiência capitalista da impessoalidade que produz resultados?  O meio-termo entre estas características é capaz de criar sinergias em equipes de trabalho concomitante à manutenção da eficiência, conseguindo produzir resultados tangíveis para a economia.  A ressurgência de fortes indústrias locais como a do petróleo, e dos conglomerados empresariais como os de Eike Batista pode ser uma evidência de um casamento eficaz neste sentido.

Um comentário:

  1. Sensacional! Leonardo seus textos representam um combústivel inestimável aos meus estudos e reflexões como professor de Geografia. Desde o título e sub título de seu blog passando por todas suas reflexões, podem ser temática para aulas de geografia nestes tempos de mudanças surpreendentes no planeta. Parabéns e obrigado. Como carioca achei este texto exatamente como percebo o processo.Ótimo. Grande abraço.

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