2012-06-08

Compartilhando o prato

Na continuação do tema individualidade vs. comunidade, compartilho aqui mais uma anedota.

Fui almoçar com a família.  Como todo descendentes de italianos, falava-se muito à mesa, e a comunicação não se restringia ao uso do português falado.  Eram gestos com a mãos e expressões faciais, daqueles que só o nosso subconsciente sabe registrar.  Entre uma frase e outra, um termo em inglês qualquer, e a certeza que todos ali compreenderam o que se passava.  Afinal, além da Itália, haviam influências da América do Norte, Inglaterra, França, e Japão entre nós.  Mundo globalizado este.

A atmosfera no restaurante se originava inconfundivelmente da artificialidade do franchising norte-americano com uma pitada de globalização.  Persianas de madeira estilo americano colonial enoiteciam o ambiente, cortando o sol tropical que rajava lá fora.  Pingentes de luz desciam do teto em cima de cada booth com mesinha, iluminando somente o necessário para ler o menu.  A organização dos pratos no menu lembrava os diners americanos, o que destoava da influência inglesa no estofado rebitado de couro.  Aquele era um restaurante temático, futebol o tema.   Enfim, algo proveniente do Brasil ali.  Já estava ficando chato.

A garçonete que chegava nos resgatou da plasticidade do ambiente.  Uma morena bem vestida e com cabelos trançados à pocahontas, veio trazer brasilidade para aqueles que já esperavam uma loira para nos servir.  Muito prestativa, atenciosa, e simpática, anotou todos os pedidos e atendeu as solicitações de mudança em um dos pratos.  Mudanças que não seria aceitas com facilidade e cordialidade na América do Norte.  Prato padrão com atendimento padrão.  Vida padrão.

A comida chegou.  Ali tinha de tudo, desde massas ao molho branco ao churrasco com legumes e purê de batata. Todos aclamando a qualidade da comida, que ainda trazia a apresentação típica norte-americana em pratos individuais.  Numa fração de segundo, tudo mudou.  Ofereceram-me um pedaço de comida do outro prato e fui pego de surpresa: compartilhar a comida era um hábito que já não possuía mais. Permitir aos outros que tenham experiências com aquilo que é seu, oferecendo de si para os outros.  Gostei da ideia e aceitei, a comida estava realmente uma delícia.

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