São 6 horas da tarde. O vento sopra, trazendo do mar o som de cada uma das ondas junto às folhas secas de amendoeiras a arrastar-se rumo à renovação da vida. Uma areia fina, quase que virgem, sustenta meus pés. Sinto um aconchego dócil, como se aquela areia se moldasse ao meu corpo e ali fôssemos um só.
À volta, silhuetas no horizonte. De um lado, e mais próximas, formas suaves feitas de verde e pedra delineiam o espaço entre dois azuis -- o mar e o universo. Ao fundo, traços escuros fazem alusão ao fascínio pelo desconhecido, protegidos ao topo por degradês de amarelo-fogo envoltos em rajadas de tinta branca. Certo de que o pintor desta obra não estava ciente de sua aptidão, o homem a transformou em cartões postais e as nomeou com temas de culinária, religião e medicina. Tolice.
Ainda que somente por aquele momento, não transpareciam rótulos. Ali, tudo parecia virgem e não haviam partes, só o conjunto. O valor daquela obra majestosa se mostrava infinitamente maior na composição. Sentia-me feliz por fazer parte dela, como o grão de areia.
2012-08-19
2012-08-18
Copa Cabana
Sair a noite no Brasil é perigoso. Hoje mesmo um trombadinha tentou roubar o cordão de um colega de trabalho no Centro da cidade. Porém, ainda temos muitos que se aventuram pela noite carioca, e alguns que vem parar no aqui no calçadão de Copacabana.
Nesta cidade que vai sediar a copa, o bairro mais cosmopolita da cidade parece mesmo uma cabana que abriga de tudo um pouco. Do Leme ao Forte, em algumas pedaladas você ve muito além dos turistas omnipresentes. Aulas de musica caribenha em pleno quiosque, com direito até a instrutor, animando os namorados, namoradas e passantes. Aprender a dançar, à luz da lua e ao som das ondas, nem Mastercard paga. A cena é tão inovadora que pareceria até clichê de tão romântico. Mas vos digo, é verdade, pois eu mesmo gastei uns passos ali.
Alguns quilômetros e cruzamentos a frente, nos deparamos com uma partidinha básica de vôlei de praia. Não, aqui no turno da noite não encontramos as duplas olímpicas, os narcisistas e os amantes pela competição ferrenha que disputam o ponto que raspou na fita. São os amantes do esporte pelo esporte que dominam a noite, onde jogam pelo menos 5 de cada lado. Dois contra dois seria muito esforço -- afinal, a partida é recreativa.
Aliás, hoje me deparei aqui com uma nova forma de recreação na areia: soltar pipa. Estavam ali dois meninos, completamente despretensiosos, soltando cada um a sua pipa. A surpresa era a direção do vento, pois ele, como sempre, não soprava na direção do mar, mas em direção aos prédios. E lá estavam as pipas, sobre o calçadão, ora próximas dos prédios, ora próximas dos postes e as vezes até ensaindo um razante na direção dos carros na Av. Atlântica. Sim, era perigoso até, mas o meu encantamento com aquele paradoxo era claro: soltar pipa na era do shopping e do videogame e, em plena praia? Um verdadeiro coup d'etat!
Que venham as tropas.
Assinar:
Postagens (Atom)