Ao final de todo ano, as lojas fecham por alguns dias. Retira-se o que não será mais ofertado ao cliente, novos produtos ocupam as prateleiras e o estoque é contado e conferido. Meu ano terminou e, apesar de não ser uma loja, quero aproveitar para fazer o meu balanço. O mais irônico, ou talvez vantajoso, é que faço este balanço justamente no lugar que deixei, o Canadá.
Apesar de estar aqui de passagem, a trabalho, aproveitei para rever os amigos que havia deixado a 4 estações atrás. Algumas vidas haviam mudado, outras em status quo -- mas o importante é que continuavam em busca de seus objetivos e sonhos e, que, apesar da distância, ainda sentia que eram meus amigos. Parecia mesmo que eu nunca havia partido. E, como todo amigo que nos quer ver feliz, a pergunta recorrente era: está feliz no Brasil? o que você gostou? o que você não gostou? Já havia chegado pensando em fazer o tão famigerado balanço. Tais perguntas só tornavam-o mais evidente. Era, então, hora de refletir. Refleti.
Foi um ano emocionante. Aprendi muito sobre a vida, e como aprendi. Eu queria me aproximar mais do lado humanista que havia perdido com o frio das relações em terras frias. Sabia que teria tal oportunidade na américa latina e tirei proveito dela. Conhecer melhor a minha família. Entender e até compartilhar dos objetivos de vida dos meus amigos. Descobrir o que motiva as pessoas na vida. Ver que as pessoas, em seu caminho, são tão diferentes quanto tons de cor em uma pintura impressionista. Aceitar as diferenças. Vi então que a vida não é um projeto com começo, meio e fim onde podemos controlar e planejar as coisas. O inesperado, o acaso e as coincidências fazem parte e percebi que eu gostava deles. A vida como ela é, já dizia Nelson Rodrigues.
Conheci um Brasil que havia sido me apresentado somente por terceiros em primeira mão. Trabalhei lado a lado com brasileiros, conheci o mundo dos negócios, a produção de valor. Vi talento, muito talento. Vi progressistas, pessoas de vanguarda com coragem de inovar, investir e trabalhar. São muitos. Este país que acorda cedo não é tão ruim quanto a imagem que criei dele. Aqui não faltam pessoas trabalhadoras. Percebi, ali, que o desenvolvimento do Brasil não dependia de mais fomento, de mais ações governamentais na indústria para o trabalho. Estes são só fichinhas para trocar por voto. O que falta, no Brasil, é confiança e comprometimento entre as pessoas. Assunto para outro artigo.
Por outro lado, sobra alegria. O brasileiro sorri à toa. O brasileiro conversa no ponto de ônibus. O brasileiro se relaciona. O brasileiro gosta de ver gente na rua. O brasileiro mostra pro mundo que a vida, já efêmera, perde seu propósito quando vivemos a sós. Não é o fim, e sim a jornada que importa. E este Brasil, eu não só gosto como amo, abraço e beijo. Ele faz parte de mim e eu, dele.
Me perguntaram onde estava a tal da felicidade. Respondi que a encontrei no caminho do auto-descobrimento, no inesperado, no mar, na natureza e naqueles que eu amo e que me amam. Coisas que não estão à compra ou venda. Se estivessem, ainda estaríamos procurando.
Por fim, só tenho a agradecer. Obrigado àqueles que estiveram do meu lado em tempos difíceis, nos desafios, nas conquistas. Obrigado àqueles que ofereceram oportunidades de trabalhar, de contribuir, adicionar valor, construir. Obrigado àqueles que compartilharam e dividiram um café, chopp ou biscoito Globo. Obrigado àqueles que me emprestaram o ouvido quando eu precisei. Obrigado aos que trouxeram boas energias, que desejaram o bem. Obrigado aqueles que doaram sem esperar algo em troca. Lembrei de vocês.